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NOME: Manuel Bravo Saramago NASCIMENTO: 19/10/1944, Tombos - MG FORMAÇÃO: Bacharel em Direito pela Faculdade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/MG - 1971. Mestre em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG - 2003.

sábado, 18 de julho de 2009

Crônica da Periferia

Quarta-feira, se não me engano, 8 de julho último, como sempre, fui almoçar no Riviera, rua Goiás, defronte ao Tribunal. Como não havia mesa vazia, pedi licença a duas senhoras, uma, com, aproximadamente, 80 (oitenta) anos, e a outra com cerca de 85, permitiram-me que assentasse junto à mesa que ocupavam. Pareciam duas irmãs e, realmente, eram, pude perceber no decorrer do almoço. Conversa vai, conversa vem, da qual não participava mas, como sempre, atento a tudo. As duas senhoras, pelo o que ficava da conversa, eram filhas de militar de alta patente, acho que era de um almirante. Infelizmente, sou muito curioso. Tenho pouca educação. Neste ponto, não fui um bom aluno da minha queridíssima mãe - mulher muito enérgica e minuciosa na imposição da boa educação aos filhos -. Enquanto almoçávamos, uma das irmãs, a mais velha, fez um comentário: - olha Nair, que casal lindo entrando! Nair respondeu - Neide, ele é bem mais velho, mas, realmente, formam um par lindíssimo. Neide comentou - bem faz ela que deve ter se arrumado, pois ele, além de ser muito bonito, parece ser bem de sorte ( ter uma vida financeira tranquila); as moças de hoje não são bobas como eu fui: casei com um mulherengo, jogador de baralho e pobre (desgraça pouca é bobagem), deu prejuízos ao nosso pai, e que prejuízos! Nair retrucou - mas também você casou com sérias objeções de nossos pais. Neide disse - era o amor, e muito amor, nada mais. É Nair, você, neste particular , foi mais sabida do que eu: casou com quem nossos pais faziam gosto, era o jovem, lindíssimo, de boa origem, comandante da fragata Peçanha, o capitão de fragata Olavo Jardim Mendes, de família tradicional de Pernambuco. Nair disse - mas também me deu trabalho, você se lembra, ele se envolveu com aquela chefe da intendência, mulher de comportamento duvidoso. Voltaram a falar no casal lindo que adentrara o restaurante. Elogios daqui, elogios dali, de tanto elogio fiquei com a curiosidade mais aguçada. Virei para ver o tal casal e deparei com o Mauro Soares, em companhia da sua filha, Laila. Continuei quieto. No final do almoço, não aguentei, entrei na conversa, e disse: - aquele par trata-se de pai e filha, esta, recentemente casada, em lua de mel, ainda. Aí o frisson foi geral. O Mauro de muito bonito passou a ser lindíssimo e muito parecido com o comandante da fragata Peçanha. Nair me perguntou: - o que o senhor faz? Eu respondi - sou magistrado. E se referindo ao Mauro, disse - ele parece um comandante. Qual é o trabalho dele? É também magistrado. Neide, meio desiludida, indagou - mas só magistrado? Respondi - somente magistrado e acrescentei: magistrado mais velho é chamado de Desembargador. Aí Nair, já alentada, achou bonito o nome (d e s e m b a r g a d o r) e não entendendo a carreira da magistratura, perguntou-me: - o senhor é ajudante-de-ordens dele? Eu respondi - não. E expliquei: - magistrado desembargador tem assessor, assistente e estagiário. Magistrado que tem ajudante-de-ordens é somente o Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, mais ninguém. Nair e Neide nada entenderam a respeito e eu não me dispus a explicar. Olhei o relógio, marcava 13,00 horas. Pedi licença, levantei da mesa de imediato, pois tinha sessão, e as duas senhoras, não percebendo que o restaurante estava cheio e os garçons precupados com a falta de lugar, continuaram a conversa. E que conversa. Indo para o tribunal, pensei: e não é que as duas senhoras têm razão. O Mauro, realmente, parece um comandane da Marinha. Imaginem ele todo de branco, inclusive os sapatos, com todas as patentes, de quepe também branco e óculos escuros - é o próprio oficial superior da Marinha de Guerra, senhor de todos os mares. Mas isto não lhe impede, evidentemente, de ser o excepcional magistrado que é.

Um comentário:

Unknown disse...

Professor, o Senhor é realmente professor em tempo integral...E dos bons heim faz com que o aprendizado se torne mais fácil...Adorei a Crônica...rsrs