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NOME: Manuel Bravo Saramago NASCIMENTO: 19/10/1944, Tombos - MG FORMAÇÃO: Bacharel em Direito pela Faculdade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/MG - 1971. Mestre em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG - 2003.

sábado, 12 de setembro de 2009

Crônica da Periferia - "O lobby do 253"-.

Após o almoço, neste dia cedo ainda, por volta de 12,00 hrs (meio dia), fazia muito calor, dois juízes, já veteranos no ofício de julgar, atravessaram a rua, no meio de trânsito intenso, e adentraram o lobby do 253 (duzentos e cinquenta e três). Ambiente agradabilíssimo. Ar refrigerado no último grau. Otimo! Assentaram na poltrona localizada próxima aos caixas dos bancos e um deles, com ar crítico, observou: - muito movimento e nada acontece. O colega, talvez mais observador, retrucou: - engano seu, muita coisa acontece, o espaço é pequeno para o que ocorre aqui dentro, mesmo sendo uma passagem. Conversou-se um pouco mais, um deles se levantou e saiu, sob o pretexto de que a sessão estava por começar. O outro, menos pontual, mais atento ao comportamento dos circiunstantes, num burburinho incomum - entra e sai de pessoas descomunal -, ficou e gostava do que via e percebia: muita juventude, beleza, elegância, alegria e mistérios.
Evidente: cada face uma realidade! Passava pela nave do lobby as meninas da 5ª câmara, educadamente cumprimentaram o velho juiz: Isabela, Roberta e Paula, esta casada, falava pelo telefone com o marido, apenas avisava o consorte que ia almoçar com as amigas e colegas e lhe mandava o beijo de sempre. As três cobraram do velho juiz os bombons, pois há muito não eram presenteadas com tal guloseima. Sai do elevador a Ângela, jovem senhora, muito bonita, com uns dentes de tão certos parecem obra do mais habilidoso artesão, foram clocados com lupa, eficientíssima assessora do 8° andar, que tomou conta de toda sala da assessoria, passou pelo velho juiz e também o cumprimentou, como a outra, falava ao telefone com o consorte: - alô amor, estou indo almoçar. Querido, depositou o cheque que lhe pedi? Ótimo! Logo mais falaremos, como sempre. Adeus. Atrás, passa a Tatiana do 10°andar, juntamente com a Narinha, um encanto de pessoa, a primeira, como as demais, também falando ao telefone com o marido, deu uma paradinha diante do magistrado e o cumprimentou.
Os papos das meninas eram realmente com os eternos namorados, faço votos que assim seja- conversa rápida, recados mesmos, não era preciso ser diferente, pois, à noite, em casa, colocariam a conversa em dia.
Diversas garotas e garotos, jovens, certamente estagiários ou da Aspron, passavam com os respectivos, com a mão entrelaçada na do outro. Quanto amor! Lindo!
Surgia na saída do elevador Virgínia, mulher casada, um casal de filhos, com cerca de 38 (trinta e oito) anos de idade, muito bonita, elegantíssima, olhos castanhos claros, como também os cabelos, por sinal muito bem tratados, de 1,70 de altura, mais ou menos, trabalha no 25° (vigésimo quinto) andar, é auditora fiscal do estado. Residiu por cerca de 2 (dois) anos em Berlim, foi secretária de uma das diretorias da Volkswagen. Posteriormente, foi para os Estados Unidos, onde esteve por cerca de 5 (cinco)anos. Foi chefe da carteira hipotecária do Citibank, na Flórida. Muito bem vestida: saia na altura do joelho, cintura alta, cor marrom, blusa de crepe de seda, sem ser transparente, mangas compridas, cor amarela com tendência ao mostarda, sapato caramelo, talvez um SCARPIN, meias cor da pele, quase que imperceptíveis, e uma bolsa grande, cor grená, muito chic, percebe-se que é de grife italiana. Assentou sobre a poltrona defronte a que estava o juiz e o cumprimentou discretamente. Ligou o celular. A linda senhora começou a falar em tom baixo, muito baixo, quase que sussurando. Deitando o tronco sobre as pernas, numa posição quase que fetal, e a mão vazia colocava sobre o outro ouvido. Falava, ou melhor sussurrava, e sussurrava, tudo muito estranho! Não era igual às jovens senhoras que passaram há pouco. Era muito diferente. Claramente rolova um clima tórrido. Do outro lado do lobby, assentado numa das poltronas, estava Gustavo, terno azul-marinho, gravata vermelha, camisa azul, sapatos pretos, meias azul-marinho, superintendente da receita estadual, trabalhando no 26° andar, cabeça encostada na parede, pernas abertas, nó da gravata frouxo, paletó aberto, mão vazia sobre a perna, relaxadamente falava ao telefone. Também falava, e falava, e falava e, às vezes, sorria de leve. Percebia-se que Virgínia estava atenta ao que se passava na rua Goiás e, repentinamente, despediu-se, desligando o telefone. Ato contínuo, do outro lado, Gustavo desligou o telefone e se levantou, saindo, encontrando na porta com Fernando, advogado dos mais conceituados de Belo Horizonte, chefe do departamento jurídico de uma multinacional, marido de Virgínia. Cumprimentaram-se, Gustavo foi em direção ao Automóvel Clube e Fernando dirigiu-se ao caixa eletrônico, fazendo apenas um sinal para que Virgínia o seguisse. Saíram, Fernando sempre à frente de Virgínia. Não deram as mãos. Não houve aquele beijo sobre os olhos e a aquela mão carinhosa que sempre encontra uma mecha de cabelo da mulher amada para ser alinhada. Tudo muito distante! Quando o desamor se faz presente não há espaço para o entrelaçar de mãos, um beijo mais ardente, e demais carícias, como também desaparece o diálogo. Poderá permanecer a atração física, nada mais.
Percebeu-se, claramente, que a conversa por telefone era com Gustavo.
Fernando era conhecido. Embora profissionalmente brilhante, deixava muito a desejar no que respeita ao caráter. Figura não muito recomendável para privar da sua amizade.
Posteriormente, veio a confirmação: ralmente, Virgínia namorava Gustavo, que também era casado, tinha 3 (três) filhos. Problemas mil. E que problemas!!! Falou-se em traição de Virgínia, que teria destruído duas famílias, a dela e a de Gustavo. Discordou o velho magistrado com a seguinte argumentação: a mulher não trai, ela tem carências e paixões, e muitas paixões; traidor, por índole, é o homem, que consegue manter situação dúbia por longo tempo, o que é impossível para a mulher. E quanta coisa acontece no lobby!
Não deu para descrever tudo. Fica para a próxima ocasião.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança na vida real é mera coincidência.
Consultora do blog - Helena Dias.

2 comentários:

Anônimo disse...

Manuel:

Sua verve literária ainda vai ultrapassar seu tirocínio jurídico.
Parabéns.
Levenhagen

Anônimo disse...

Dr. Manuel,
Adorei a crônica!!!
Obrigada pela homenagem ao final!
Beijos
Helena