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NOME: Manuel Bravo Saramago NASCIMENTO: 19/10/1944, Tombos - MG FORMAÇÃO: Bacharel em Direito pela Faculdade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/MG - 1971. Mestre em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG - 2003.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Juiz, um ser solitário

Ontem, dia cinza e triste, como tem sido uma constante aqui no Alphaville, resolvi conversar comigo escrevendo este texto, já que não havia ninguém para um diálogo próprio das manhãs de domingo - o jogo de futebol da tarde. Já se antevia o resultado do jogo no Pacaembu. Mas não quero falar em futebol, até a eleição do Presidente Kalil, no próximo mês.
Na década de 90, século passado, quando o Atlético disputou uma semifinal com a Lusa, no Morumbi, fretamos um taxi nas proximidades do fórum, no Barro Preto, este blogueiro e o Alvimar de Ávila, para nos conduzir ao aeroporto da Pampulha, pois pegaríamos o avião das 18,30 rumo a São Paulo, para assistirmos ao jogo.
O motorista, de inopino, disse: - Nesse prédio há um bando de ladrões que roubam da gente. Perguntei: - Quais? Respondeu-me: - Os homens que usam capa preta. Naquela época, havia poucas juízas.
E continuou o taxista no seu desabafo: - Outro dia, um dos caras de capa preta me fez pagar um absurdo à minha ex-mulher, quase a metade dos meus ganhos, pessoa que não quis viver comigo, um assalto. Perguntou-lhe o Alvimar: - E quantos filhos tem com a sua ex-mulher? - Tenho três.  Perguntei-lhe: - E com qual idade? Seis, três e um ano. Perguntou-lhe novamente Alvimar: - E por que se separaram? Eis a resposta: - O amor não é eterno, surgiu um novo amor, uma passageira, o senhor entende? E deu um sorriso. Entendemos tudo e nada mais falamos.
Fomos para o aeroporto com a ilusão de trazer uma vitória. Como estávamos enganados!!!! Rodrigo Fabri não deixou, Lusa 1x0.
Tempos depois, assentado na cadeira do meu antigo barbeiro, meu xará, salão localizado no prédio do hotel “Palace”, na rua Carijós, e, na cadeira ao lado, um freguês do Rubens, este meu amigo, disse: - Todo juiz é ladrão, f.. da p..a. Houve um mal estar no salão, pois os barbeiros sabiam que eu era magistrado. Manoel chegou a me perguntar se queria que dissesse algo. Eu lhe respondi: - Não fale porque estou correndo o risco de apanhar, e muito. A situação era a mesma do motorista: o cliente do Rubens tinha sido condenado a pagar pensão à mulher e filhos.
E assim vem sendo, sempre.
Outro dia, frequentando os bastidores do Atlético - porque me permitiram a frequência, caso contrário lá não estaria - clube do meu coração, onde é possível que tenha amigos, imotivadamente, fui objeto de galhofa somente por ser magistrado. É o estigma da função, infelizmente. E, em outro momento, em lugar público, porque tenho este mísero blog, fizeram-me de um “Mané Qualquer”. Aqui não saberia explicar a motivação do bullying.
Sou magistrado por vocação. Antes passei pela Advocacia, Procuradoria Autárquica e Ministério Público, sempre com um procedimento funcional sem mácula e tudo por força de concurso público. Exerci o magistério por mais de vinte anos, também por força de concurso.
Vivo, exclusivamente, dentro dos padrões financeiros que o meu subsídio permite. Exerço a jurisdição eventualmente com erros, é claro; bem intencionado, sempre; com celeridade, no que me é permitido ser célere; tratando com urbanidade as partes, advogados e serventuários. Sintetizando, venho cumprindo o meu dever. Não sou contra o CNJ. Sou contra a incontinência de linguagem.
Nunca soube vender conversa e falar o que o meu interlocutor quer ouvir, ainda mais se este ocupa função de chefia.
Finalmente, no último sábado, no Globo News Painel sob o comando do William Waak, tevê fechada, canal 40, em que se discutia sobre a corrupção da sociedade brasileira – participaram como convidados Cláudio Abramo, diretor da “Transparência Brasil”, Jaime Pinsky, historiador e professor da Unicamp, e Cláudio Couto, cientista político e professor da F.G.Vargas.
Programa muito bem conduzido por William Waak, como sempre, uma discussão muito inteligente, excelente para se ver e ouvir, com Cláudio Couto entre outras, fazendo críticas ao Judiciário.
Cláudio Abramo foi o ponto negativo: ele não fez críticas ao judiciário. Foi além: demonstrou um sentimento de ódio aos juízes e ao sistema como um todo, o que me impressionou, e muito. Pareceu-me algo pessoal, com o que já estou acostumado. Fisicamente, tem uma aparência com o taxista do Barro Preto que levou este blogueiro e o Alvimar ao aeroporto.
O que fazer? Já no ocaso da vida, ser obrigado a esconder o que faço honestamente para não sofrer discriminação e talvez ser impossibilitado de freqüentar o clube do coração, não é fácil!! Não me resta outra alternativa: conversar comigo, escrevendo neste espaço. Nada mais.

5 comentários:

bia caires disse...

Seu desabafo é meu, caro Manuel. E creio que você seja porta voz de muitos outros colegas, que, como nós, fizeram da magistratura um sacerdócio. Sou filha de Magistrado e sempre tive muito orgulho da profissão. Minha filha está cursando a Faculdade de Direito, imbuída do mesmo ideal. Me sinto cada vez mais entristecida com a imagem deturpada do Judiciário que a mídia tem procurado impingir na população. Procuro, como você, exercer minha honrosa função da melhor forma, transportando malotes carregados de processo para trabalhar em casa, usando períodos de férias como formão de tentar manter o "serviço em dia". Tenho a consciência tranqüila de que, dentro das minhas limitações, tenho cumprido com meu dever funcional. Sou testemunha de seu zelo. Sua capacidade de trabalho, fruto de sua inteligência privilegiada, é reconhecida em nosso Tribunal e entre os jurisdicionados. Você deve se orgulhar por ser o Magistrado que é, no qual sempre me espelhei.

jabborges disse...

Viva o Manoel

jabborges disse...

O grande e bravo Saramago, nosso ínclito amigo fraterno, colega leal, guia firme e resoluto, cujss pegadas podem ser seguidas sem titubeios, vem de receber a Comenda Teófilo Otoni, o liberal de 1842, a lhe ser entregue na histórica, tradicional e letrada SERRO. Modesto, está a vacilar quanto a ir receber pessoalmente a Comenda. Vamos lá, Manuel. Juntos de você, também condecorados, os queridos colegas Beatriz Caires e Tiago Pinto. Vamos todos, numa caravana cultural, etílica e gastronômica (afinal, o Tiago vai...) à terra do Otoni, do João Pinheiro, do Edmundo Lins, do Armando Freire e, claro, do seu mais ilustre e inexcedível "filho", o queijo famoso, verdeiro patrimônio cultural de Minas, quiçá, da humanidade... Vamos lá, Manuel. Anime-se!!!

bia caires disse...

Vamos, Manuel! Sem você não vai ter graça.. E o Serro é lindo!
Bia caires

jabborges disse...

Atenção Saramago. A Bia Caires também está na campanha "VÁ AO SERRO, MANUEL". Quando chegar do jogo do Galo, lá na terra das sete lagoas, reflita e confirme presença! Baía